Afroempreendedorismo e o mercado da moda

Diante de tantos encontros entre etnia e moda, surge uma poderosa pergunta: Onde estão os negros e negras da moda? Quantos estão à frente de marcas com visibilidade? Onde apresentam suas palestras, suas iniciativas? Estão nas capas de revistas? Estampando matérias?

O baixíssimo número de negros envolvidos no mercado não se dá por falta de iniciativa ou falta de capacidade. O racismo, por vezes sutil mas em grande parte escancarado, é uma luta contra a humanidade. Com trabalhos inviabilizados e narrativas condicionadas, viver em um mundo em que a moda seja igualitária é um sonho pouco alto para o afroempreendedorismo. A representação ainda é muito baixa, e não é porque não existem profissionais negros qualificados, mas não existe espaço nesses lugares de destaque, e a responsabilidade da moda é canalizar sua força para que abram-se espaços onde negros deixem de ser marginalizados no mercado, podendo alcançar outras histórias. As histórias que quiserem.

Trabalhar nesse mercado e ser um profissional do afroempreendedorismo é diariamente combater a ideia de que o negro não deve ser associado ao belo ou à riqueza. Curioso que é a parte da população que mais consome, porém que só tem 10% de representação de imagem. É difícil acreditar em tamanha desproporção. Sabemos que há uma incompatibilidade e é necessário mudar, entretanto, a descriminalização superficial se torna o perigo das passarelas, quando ainda é necessário estabelecer cotas para desfiles incluírem suficientemente modelos negras.

A Ana Flávia, 24 anos, 3 anos como modelo no Brasil e há 1 ano trabalhando em projetos internacionais, resume um pouco o pensamento de uma mulher negra, que trabalha com moda, e sua dificuldade no dia a dia:  

Por estar inserida no mundo da moda, minha visão é que se trata de um mercado de luxo. Só quem tem condições financeiras pra isso é a classe média e alta. Meu ponto de vista é que ainda há um racismo velado, porém, ao mesmo tempo, um crescimento de modelos negros no mercado nivelado da moda.

A Queen Bey é um super ícone musical, mas também agrega muito no universo fashion. Sua visão é empoderada e empreendedora, inspirando milhares de jovens que se identificam com sua jornada. Com uma personalidade forte, a diva é referência da moda e do bem-estar pessoal, sempre registrando a importância de se sentir bem consigo mesma, independente de tendências e padrões.

Por causar mudanças progressivas no mundo da moda, A Beyoncè foi homenageada no CFDA Awards, premiação mais importante da moda, recebendo o prêmio de “Icone Fashion”. Óbvio que não podia faltar um super discurso inspirador de arrepiar todo o público, com momentos de sua infância e a relação com a moda, início de carreira, rejeição…

Isto pra mim é o verdadeiro poder e potencial da moda. É uma ferramenta que nos ajuda a encontrar a nossa identidade, forma de expressão e força. Isso transcende o estilo. Agradeço à minha família por ter me incentivado a nunca aceitar um não como resposta, por me mostrarem como correr riscos e viver a vida segundo minha própria condição.” – É assim que a toda poderosa Queen Bey desce um pouco de seu pedestal e se mostra mais humana, mais real, quando compartilha conosco sua história.

As vezes é o cabelo crespo, a pele escura, um olho que não é azul. O padrão da moda sabe ser muito cruel com as pessoas dessa etnia. Por fim e com muita luta, estamos finalmente vivendo um momento onde o preconceito é televisionado e não pode ser aceito, deve ser questionado. É o momento de se posicionar a favor da diversidade e capacidade do ser humano, como um só. Marcas que não entendem a diversidade e não se propõem a discutir maneiras de inclusão passarão por um período de incoerência, colaborando com a segregação e falta de representatividade ainda tão frequente na vertente da moda.

De fato, requer uma resistência diária ser negro e construir o seu orgulho. No meio fashion, o afroempreendedorismo é responsável por questionar a apropriação cultural com o talento e diversidade, por isso listamos 6 marcas criadas por mulheres negras que trazem amor e respeito à identidade própria:

Feira Preta

  • Idealizada por Adriana Barbosa, a Feira Preta é a maior rede de empreendedores negros no brasil. São 18 anos trabalhando com marcas e fortalecendo negócios, onde cerca de 5 milhões de reais já foram movimentados em produtos e serviços do universo afro.

Dresscoração

  • A marca da Loo nascimento encontra a identidade brasileira lado a lado com sua ancestralidade. A Dresscoração trabalha com garimpos de texturas e estampas brasileiras que se assimilam à estamparia africana, trazendo peças praticamente exclusivas no seu afroempreendedorismo.
View this post on Instagram

#OORPAKKE 💫❤🍀 link na bio.

A post shared by dresscoração 🇧🇷 (@dresscoracao) on

AJuliaCostaShop

  • O que move a mulher na América Latina é a diversidade. A Julia desenvolveu seu estilo onde a individualidade das peças dá um show. A moda independente utiliza traços do dia a dia, e retrata um pouco a mulher da periferia no Brasil que nunca perde a classe.

Estúdio Lu Safro

  • Estúdio de saúde e beleza especializado em cabelos afros. Localizado em São Paulo, a Lu desenvolve todos os tipos de penteados e looks mara para o seu ensaio ou job profissional.

ZambiaBrand

  • Marca de acessórios belíssima, explora em suas peças a ancestralidade da cultura negra.
https://www.instagram.com/p/CAq6GVFAMwE/

Odara School

  • Aprender uma língua nova é muito difícil para jovens periféricos, seja pela falta de acessibilidade, seja pelos altos custos de escolas particulares. A Escritora e poeta Ryane Leão idealiza a Odara School, curso de línguas exclusivo para mulheres negras, focado em uma cultura afro-americana. Além de ensinar um novo idioma, fortalece a autoestima das alunas. Não é incrível?

Mais Iniciativas do Afroempreendedorismo Online:

Além dessas indicações, observamos algumas iniciativas online projetadas para o público negro que vem ganhando destaque no mercado. A AfrôBox é a primeira caixa de beleza pensada para mulheres negras, e funciona por meio de assinaturas. Todo mês, com um preço fixo, a assinante recebe em casa vários produtinhos selecionados de acordo com o seu perfil. É inteligente, visto que o mercado de cosméticos no Brasil continua a negligenciar boa parte da população de mulheres negras. A ausência de um recorte étnico nas “Boxs” de beleza é só mais uma prova disso, além de que grande parte das marcas de maquiagem não tem todas as tonalidades de bases, causando uma falsa diversidade proposta. Sem sucesso, acabam com opções extremamente limitadas para uma enorme gama de mulheres.

Existe também um aplicativo de afroempreendedorismo, que reúne trabalhadores negros num lugar só. Com o objetivo de incentivar e dar visibilidade ao trabalho deles, o app Kilombu foi idealizado por estudantes negros para amplificar o alcance de pessoas negras e empresárias, que lutam por uma fatia do mercado profissional.

Se compromete a atenuar as desigualdades econômicas provocadas pela distribuição desigual de renda produzida no país” – Explica o co-fundador Vitor Del Rey.

Dentro dessa perspectiva, o Kilombu propaga a singularidade afroempreendedorismo em seu mercado de uma maneira mais completa, juntando na plataforma produtos e serviços prestados por negros que ainda não tiveram a oportunidade de divulgar o que produzem.

Estamos falando sobre influência, responsabilidade. É importante salientar a estranheza que é viver em um país onde mais de 50% da população se auto declara negro ou pardo, ainda não tenha representatividade no mercado da moda.

Se tratando ainda da moda, mas no segmento de luxo, temos nomes admiráveis, que fazem a diferença no mercado e na arte de construir moda, e o melhor, construir diversidade.

Virgil Abloh

Diretor criativo do vestuário masculino da Louis Vuitton e criador da Off-White, Virgil Abloh, filho de pais ganeses, se formou em engenharia e arquitetura, mas foi um estágio na Fendi que tomou as rédeas da sua vida profissional e o levou a ser um dos mais influentes designers da moda mundial, chegando a ser nomeado como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time, em 2018.

View this post on Instagram

“trojian horse”

A post shared by @ virgilabloh on

Edward Enninful

Edward Enninful nasceu em Gana, e é o grande editor chefe da Vogue Britânica, o primeiro homem a ocupar essa posição, antes ocupou o mesmo cargo na revista iD, onde trabalhou por mais de 20 anos.

Olivier Rousteing

Com os pais biológicos africanos, a mãe da Somália e o pai da Etiópia, Olivier foi adotado com um ano de idade por seus pais franceses, e veio ao mundo para mostrar que lugar de negro africano é onde ele quiser, inclusive no lugar de diretor executivo da Balmain.

Em uma entrevista para a revista Out, em 2015, Rousteing diz que sua idade e principalmente a sua raça, foram motivos de queixas no universo da moda. 

“As pessoas pensavam: ‘Oh meu Deus, ele é uma minoria que está assumindo uma casa francesa!'”  

Laura Smalls

Laura Smalls é uma designer com uma sensibilidade incrível, ainda em ascensão, mas que com certeza vai chegar longe.

Ninguém menos que Michelle Obama já vestiu suas peças e suas coleções já estiveram na Bloomingdale e Henri Bendel.

E é isso mesmo! Queremos mulheres negras compondo e revolucionando o alto escalão da moda!

É isso. A luta antirracista não termina hoje, mas o prettynew acha importante demonstrar suporte. Convidamos a comunidade branca a refletir sobre privilégios e atos consumistas, contribuindo com formas de apoiar essa causa urgente. À comunidade negra e ao afroempreendedorismo, oferecemos nosso apoio e aliança não só em tempos difíceis, mas sempre.

Comentários