Já faz um tempinho que estamos aqui falando sobre como a indústria da moda impacta a sociedade e o meio ambiente. Mostramos diversas ações no Fashion Revolution Day, falamos sobre o conceito de guarda-roupa cápsula e como montar o seu, além de várias outras dicas de como consumir de forma mais consciente. Mas tem mais, sempre tem mais maneiras de ajudar a poluir menos e cuidar mais do nosso planeta através da moda, e pensando nisso hoje vamos falar sobre o tingimento natural de tecidos. Vem saber mais sobre esse assunto e até aprender a tingir suas roupas e tecidos!
O que é o Tingimento Natural de Tecidos
O tingimento natural de tecidos é uma técnica milenar que está voltando, juntamente com todos os assuntos a respeito de sustentabilidade e consumo consciente.
Além de ser muito eficiente e com impactos positivos à natureza (isso mesmo, ele não é nem neutro, ele ajuda mesmo a natureza), vai na contramão de todos os quesitos que fomentam a indústria fast fashion, afinal, trata-se de uma técnica artesanal que demanda tempo, personalização e cuidado, uma dedicação que sem dúvida alguma se traduz em muito valor agregado àquela peça.
Materiais e Técnicas
A ideia do tingimento natural é usar os elementos da natureza, e basicamente todo e qualquer elemento natural com cor pode ser transformado em um corante natural, flores, frutas, folhas, troncos, galhos, verduras e temperos.
E para transformar esses elementos em cores e começar o processo de tingimento natural, normalmente se escolhe uma dessas três técnicas:
- O Tingimento Liso, que consiste na coloração do tecido como um todo e com todas as partes iguais.
- A Impressão Botânica, ou Eco Print, que é a tática de criar estampas que de fato imprimem folhas e o formato da matéria prima utilizada.
- O Shibori, que é a criação de diversos padrões, mesclas, degradês e formas de estampas através da amarração dos tecidos.
E o Meio Ambiente? Como Fica?
Fica bem, muito bem, aliás, melhor do que antes, até porque a técnica de tingimento natural não é apenas uma prática para não agredir o meio ambiente ou agredir de forma menos destrutiva, ele AJUDA o meio ambiente.
Isso mesmo que você leu, ele ajuda justamente substituindo os milhões de químicos e componentes tóxicos que fazem parte do processo de tintura industrial, por componentes naturais.
Quando um tecido é tingido industrialmente, precisa passar por inúmeras lavagens, e todos esses químicos e tóxicos contaminam (e muito) a água utilizada no processo, o que a torna uma água suja, tóxica, muito cara de ser tratada, e que muitas vezes é descartada ainda nessa situação, levando todo esse lixo tóxico para o solo, para a natureza.
Já no tingimento natural, apesar de o tecido também passar por lavagens, a água utilizada não se torna tóxica, muito pelo contrário, ela é composta pelos componentes naturais que quando entram em contato com o solo servem de adubo! Isso não é muito lindo? ❤
Além de tudo isso, o bacana é o que falamos ali em cima a respeito dos materiais, como basicamente quase todos os elementos da natureza podem se tornar um corante natural, grande parte da matéria-prima faz parte de compostos que seriam descartados, como restos de alimentos, frutas, temperos, leguminosas, galhos de poda, e mais um montão de coisas que só sua criatividade pode limitar.
Como Fazer seu Tingimento
O tingimento natural de tecidos vai na contra-mão do fast fashion, a ideia é se dedicar para criar uma peça única e de valor, e para isso todo o processo pode levar de um a três dias, dependendo da técnica escolhida, o elemento natural que vai ser a base do corante e o tamanho e textura do tecido.
A prática do tingimento natural é muito parecida com cozinhar, e como na cozinha, você precisa de certas doses de vontade, paciência e dedicação, com isso o resultado sempre fica muito bom!
Você vai precisar de:
- Elemento escolhido para o corante (nas dicas de cores vamos te ajudar nessa escolha)
- Sal e Vinagre para mistura fixadora natural, ou alume como mordente
- Panelas
- Água
- Coador
- Colher de pau
- Recipientes de vidro
Mão na Massa:
A primeira coisa a fazer é uma espécie de chá com o elemento que você escolheu.
Existem algumas formas de medir quanto de água e quanto de elemento você vai precisar, algumas pessoas fazem de forma mais simples, para cada xícara do elemento se coloca o dobro de água, o que não vai deixar tão preciso por conta dos diferentes tecidos, onde cada um vai ter um efeito diferente por ser mais leve ou mais pesado, facilitando ou não a penetração do corante.
Para evitar essa imprecisão, outras pessoas pesam a peça a ser tingida, e para cada quilo de tecido usa-se 200 gramas do elemento que será a base do seu corante, imerso em um litro de água.
Depois, independente da técnica, ferva de 40 minutos a uma hora em fogo médio.
Desligue o fogo e deixe a mistura esfriar até a temperatura ambiente, depois coe tirando todo o resíduo da água e utilize o recipiente de vidro para armazenar só a água colorida.
Para fixar a cor do tecido por mais tempo você pode usar o sal e o vinagre como uma mistura fixadora, ou o alume como uma espécie de mordente.
Se for usar o Sal e o Vinagre:
Para corante à base de frutas: Caso você tenha escolhido um corante à base de frutas, é importante ferver o tecido em 4 xícaras de água com 1/4 de xícara de sal por cerca de uma hora, antes de começar qualquer passo da tintura.
Para corante à base de vegetais: Se optou por algum vegetal, ferva o tecido em uma xícara de vinagre diluído em 4 xícaras de água, também por cerca de uma hora.
Usando o Alume ou outro mordente:
Diferente do sal e do vinagre, se você optar pelo mordente, ANTES do tingimento, você precisa deixar o tecido de molho em água fria por pelo menos cinco minutos, depois vai fazer todo o passo a passo para tingir, e pra isso LEIA ATÉ O FINAL e só depois de tudo terminado você volta aqui para aplicar o mordente, no final de tudo mesmo.
Fez tudo? Então agora, depois de concluir todos os passos e seu tecido estiver tingido, você vai adicionar uma colher de alume (ou outro mordente) para cada quilo de tecido.
Lembrando que o alume serve de mordente mas há outros materiais que você pode utilizar, como o ferro e o cobre.
Algum deles você pode comprar em farmácias, depósitos de construção ou pela internet.
Agora, com o tecido já frio, tire toda a água, torça bem, e coloque a peça de molho em um recipiente, mergulhada ao corante que você preparou, por pelo menos uma hora.
É interessante de tempos em tempos dar uma mexida, caso esteja pintando o tecido por inteiro, ou se quiser, pode amarrar com um barbante de diferente formas para criar mesclados e degradês, a técnica de shibori.
No final é importante lavar a peça em água fria, separada de outras peças para evitar manchas, e… pronto! Deixe secar naturalmente e arrase com sua peça “nova” feita por você mesma!
Dicas de Cores
- Amarelo: cascas de cebola para um tom mais claro ou laranja para um tom mais escuro
- Verde musgo ou desbotado: folhas secas
- Cinza claro ou chumbo: folhas de eucalipto e cascas diversas
- Amarelo, laranja ou mostarda: urucum, cúrcuma ou açafrão
- Rosa: hibisco
- Roxo: casca de jabuticaba
- Vermelho: beterraba
- Verde: espinafre
- Azul: repolho vermelho
- Marrom: chá preto
- Cinza: casca de romã
- Índigo: feijão preto
Mas lembre-se que o processo todo é artesanal, você pode fazer diversos tons de uma cor, ou até mesmo chegar em uma outra cor com o mesmo elemento.
Tudo vai depender da quantidade usada, o tempo de fervura e o mordente.
O bacana é ir testando, aprendendo, e no processo criar muitas peças totalmente únicas.
Onde Aprender Mais
Quer aprender mais sobre o assunto ou até se profissionalizar? Encontramos algumas artesãs com trabalhos incríveis aqui no Brasil e que ministram cursos e workshops sobre o tingimento natural de tecidos.
Tatiana Polo
tatipolo.com.br
Arquiteta de São Paulo muito focada na técnica shibori, que aprendeu no Japão.
Tem uma casa/ateliê onde produz e oferece oficinas para quem quer aprender.
Leka Oliveira
inbluebrazil.com
Designer mineira, se dedica há mais de 12 anos à pesquisa de tinturas feitas a partir de extratos naturais.
É bem focada em produtos de decoração, e é fundadora do Studio InBlue Brazil, onde desenvolve e vende trabalhos autorais, além de dar cursos de tingimento natural de tecidos.
Hisako Kawakami
acasa.org.br/autor/hisako-kawakami
A artista japonesa, vinda de Tóquio para São Paulo em 1967, é uma das maiores referências de tingimento natural de tecidos no Brasil.
Ela trabalha especialmente com três técnicas, a shibori, mais convencional, a batik, que consiste em desenhos feitos a partir de cera, e a itajime, que é feita com tecidos dobrados e amarrações com madeira.
Hisako tem uma casa/ateliê em São Paulo, onde recebe clientes e interessados com hora marcada.
Maibe Maroccolo
mattricaria.com.br
Com mestrado em desenvolvimento sustentável na indústria da moda pela University of Arts London e consultora em ética e sustentabilidade com foco em moda.
Maibe é de Brasília, onde conseguiu fazer um mapeamento de plantas tintórias em toda a região e tem um projeto de mapear essas plantas por todo o Brasil.
É fundadora do Mattricaria, onde parte engloba esse projeto de mapeamento, mas também desenvolve e vende produtos, faz parcerias com outras marcas e ensina pessoas interessadas na arte do tingimento natural de tecidos.
A Prettynew acredita no consumo consciente, reciclagem da moda e autenticidade. Pensando nisso, trazemos conteúdo para sua jornada de autoconhecimento, estilo pessoal e momentos inesquecíveis que você viverá usando nossas peças mais que especiais.